quarta-feira, 30 de maio de 2012

Satélites do Kaos com K - Jorge Mautner

Antenas

O artista cisma
Que é marginal
Mas não sabe
Que o que lhe cabe
É o maior problema
De ser um Mandarim do sistema
Lider antena
Igual
Talvez abaixo (eu acho)
Apenas do cientista
Na verdadeira lista
De impotãncia
Na sociedade da suprema ãnsia
Da ganância e extravagãncia
E o terrivel já começa na infância
O bebê nasce no hospital onde tem uma ambulância
E a multidão te viu
Na Tevê
Que te vê
E te viu
Na Ti, Vi
Que é Tevê
Em inglês
Que todos nós
A esmo
Mesmo na escassesz
Se vê, não vê?
E que de antevê
e te fez tudo saber
Ainda como bebê
Ou até mesmo antes de nascer
Sem saber raciocinar
Ou aquela coisa
De escrever e ler






Estou adorando andar pelas ruas
como quem não quer nada
debaixo do sol
debaixo das luas
que são mais de duas
porque tem as artificiais
e no mais
não tem nada mais
só a felicidade
como névoa brilhante
por cima da cidade
em paz
(breque: vade retro satanás)



*Super-Homem é um Cristo só que mais transcendental
(a lá jorge Mautner)


terça-feira, 22 de maio de 2012

Se gosta de amora, digamos ao seu homem que namora - Dani R. F.


Drama em três atos


I
Da ultima chuva que caiu
num acorde harmônico
criado numa ficção
neorromântica pseudo-erótica
Lola atuou com magnificência
O palco rastejou ao seu pés
e a plateia sugou-lhe a torpeza


II
noventa dias e um monodrama
pintado de nude e escarlate
escancarou-se a face dissimulada
- Esculpiram a safadeza!


III
Lola feito cama leoa
rasgue o vestido
dispa a pele parda
Enerve sua cara pálida
Pra ver se dessa sua languidez enjoada
saia algum torpe excremento.







Amora


Na casa de fundo do bairro Ipês
a mulher na sua ira claustrofóbica
ateou fogo nos sofás
quebrou a “tevê”
tentou suicídio.


Hoje de manhãzinha
vejo-a da janela
deitada sobre a calçada.
A mulher namora
um novo amor
debaixo de um pé
          de amora.

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Cronópios e Famas -Julio Cortázar







A dança dos Famas

Os famas cantam em redor os famas cantam e se mexem
— CATALA TRÉGUA TRÉGUA ESPERA
Os famas dançam no quarto com lampiõezinhos e cortinas dançam e
cantam dessa maneira
— CATALA TRÉGUA ESPERA TRÉGUA
Guardas das praças, como deixam sair os famas, como deixam que eles
andem soltos cantando e dançando, cantando catala trégua trégua, dançando trégua
espera trégua, como podem?
Se ainda os cronópios (esses verdes, eriçados, úmidos objetos) andassem
pelas ruas, se poderia evitá-los com um cumprimento:
— Boas salenas cronópios cronópios.



 *pic: Roberto Bieto



Acontece que os cronópios não querem ter filhos, porque a primeira coisa
que um cronópio recém-nascido faz é insultar estupidamente seu pai, em quem
percebe sombriamente a acumulação de desventuras que um dia serão as suas.
Em vista de tais razões, os cronópios acodem aos famas para que estes lhes
fecundem as mulheres, coisa que os famas estão sempre dispostos a fazer por se
tratar de seres libidinosos. Além do mais eles acham que desta forma irão minando
a superioridade moral dos cronópios, mas se enganam redondamente, pois os
cronópios educam os filhos à sua maneira, e em poucas semanas lhes tiram
qualquer semelhança com os famas.



*pic: Roberto Bieto



Relógios

Um fama tinha um relógio de parede e dava-lhe corda todas as semanas
COM GRANDE CUIDADO. Passou um cronópio e ao vê-lo pôs-se a rir, foi para
casa e inventou o relógio-alcachofa ou alcaucil
outra maneira.

O relógio-alcaucil deste cronópio é um alcaucil da espécie grande, preso
pelo caule a um buraco da parede. As incontáveis folhas do alcaucil marcam a hora
atual e além do mais todas as horas, de maneira que basta o cronópio arrancar-lhe
uma folha para saber a hora. Como ele as vai arrancando da esquerda para a direita,
a folha marca sempre a hora exata, e cada dia o cronópio começa a tirar uma nova
rodada de folhas. Ao chegar ao coração, o tempo já não se pode medir, e na infinita
rosa roxa do centro o cronópio encontra um grande prazer, então come-a com
azeite, vinagre e sal, e põe outro relógio no buraco.
Mas os famas.
Eugenesia

domingo, 20 de maio de 2012

E os autores se inspiram - Liniers



  









 *Influenciado por tiras clássicas como "Peanuts", "Calvin & Haroldo" e "Mafalda", Liniers desenha com lápis, nanquim e aquarela um mundo mais justo, onde o humor é sutil, bobo e existencialista ao mesmo tempo. Formado em publicidade, logo seguiu para a ilustração e a partir de 1999, publicou quadrinhos semanalmente no jornal “Página/12”, até 2002, quando passou para o “La Nación”.









sábado, 19 de maio de 2012

Mini sentimentos para pessoas avulsas - Karol Penido

          Ao mar pedi que me desse as sensações de um cuidado. Que não fosse nem menos nem mais poesia. Que a seiva tivesse o ponto exato do doce. E que, sem os sonhos da padaria da rua de cima, acordar não teria graça. Isso faz dos padeiros seres misteriosos e inquietantes. Despertam leves suspeitas. Parecem ser pupilos das feiticeiras e das fadas. Por isso, toda manhã, como sonhos com a gula que sento a beira da praia para os meus pés brincarem na água. Enquanto isso, observo cada detalhe de possibilidades nos traços do horizonte. Os movimentos profundos das palavras a se contorcerem dentro do meu peito excitando a língua.  Infância. Sonho que se guarda no saquinho de pão para quando sentar debaixo de uma árvore, deixar a próxima folha se sobrepor no colo do tempo polvilhado de açúcar refinado.  



quarta-feira, 16 de maio de 2012

Fraude Marginal - Lucas F.L

O Vidro e a Pedrada



Vitral 1



Um braço futurista acena na estrada,
na mão do macaco o “alegre instante-já”
Caminhoneiros vidrados piscam os faróis

. . .

Na primeira pagina:

Motorista inchada de anticoncepcionais bate com a cabeça no volante”

No retrovisor:

bezerros magros debandam serrado afora


Dirigindo em alta voltagem
a bexiga estoura com tanto rebite
espalhando pelo acostamento
hermetismo café e cola


Vitral 2

Estruturas parkinsonianas

cadeiras de roda

o transito desafinado

esquinas

músicos de conservatório

para repensar

mesa

burgueses barrigudos falam pra cassete


Vitral 3

A fraude marginal...
*pic: Lucas F. L
A fraude Marginal II - O Eu-babuíno
 
 
 
O lado canhoto do peito
onde reside um certo cujo
coberto por osso carne e pelo
vai ser amassado para reciclagem

Nessa manhã
uma cor reverbera nas mãos,
é o sangue escorrendo de uma lata de refrigerante

Escuto o discreto eco das marteladas pela cidade
e dois terços das manobras políticas erradicando sei lá o que

O portão aberto
e um carro de som anuncia:
“Perigo”

_Nas ruas
a senhora Hibridez anda à solta.

Nas manchetes do dia:

Literata morre de tristeza num motel

Em Tiradentes
a tela de projeção "pega fogo",
carbonizando a frágil plateia-cult

Professores de arte reivindicam
menos poesia

Avó aposentada
acorrenta o vício da neta
no pé da cama


Eu crente nesse mundo...
E um movimento-carente estudantil
ao me ver comprar aquele jornal,
grita:

“A culpa é sua”

terça-feira, 15 de maio de 2012

Luz quimera e ação - Igor Alves

Luz, quimera, ação

um dia
ainda vão perguntar
como sobre vivi
à ditadura

do olhar

como driblei a censura
do criar
nos cárceres
da indústria

da cultura

ainda vão achar graça
de quem ria do profeta
que vivia de poesia
em vez de massas

e matéria

se perguntará
como um tal político
com grana e propaganda
calava e roubava o povo

com um sorriso no rosto

como esse homem, coisa feia
pisou na lua
mas não sabia sair às ruas
pra conquistar

a própria aldeia

por quê se falava tanto em deus
em separar o joio do trigo
mas não sabia cuidar dos seus
nem reciclar seu próprio

lixo

se eram de verdade
as máscaras do baile
chamado sociedade
ou teatro

de vaidades

daí vão querer saber
como se deu essa transição
e aí alguém vai dizer
primeiro foi o sonho

depois: ação

Bansky

domingo, 13 de maio de 2012

Virtualmente Vazio - Eduardo Guimarães

Orkutação de cadáveres...

Multidão de zumbis
Migrando como peixes
Flutuando com a moda das redes
Hora um, hora outro, mais outro, menos um.

A rede morta nada mais irradia nem captura
Apenas revolucionários saudosistas
Anti-contemporaneos de anos atrás

Sem censura nem senso de nada,
Copy/paste de vidas alheias
Nada novo no mundo...




# zeroum!

Mais uma vez ele chegou,
#Sentou...
Me olhou de esguelha, e reclamou do calor.
Entre um trago e outro
Disse alguma coisa sobre a Primavera Árabe,
E o quanto de lixo a rede irradia ao seu redor
Questionou a pirataria cultural
A Seleção de palhaços já não o atrai .
#Levantou...
Ensaiou umas palavras sobre a hipoteca do amor...
Apagou a conta e disse pra não me preocupar.
O fim estava mais próximo dele do que no meu mundo.
Consultou o tablet e rogou uma ou duas pragas...
#Foi...

sexta-feira, 4 de maio de 2012

Poucas cinzas do machado Abiatar



Poucas cinzas


Como se fosse um porto, meu corpo assiste a um filme barato no qual Garcia Lorca se enleva com as cinzas de Salvador Dali  e Buñuel visita seus futuros roteiros nos poemas de Lorca. 
Como se fosse outro, meu corpo no filme percebe um galho retorcido e sonha com um crânio que brisa e braceja o hálito do tempo na minha cara...

O filme retrata um beijo tímido de Lorca enquanto Dali dialoga muito sensual com sua loucura de garoto profano sem muita ideologia, mas valoroso pelas cinzas...

 Lorca escreve uma poesia abarrotada de vergonhas. Bastante sentimental! Descrevendo como somos crianças pequeno-burguesas mesmo quando poetas ou proletários.

Portanto, o filme tem galhos e analogias de crânio derretendo uma escola em Madri.

Portanto, o filme habita meu corpo e exala personagens culpadas de amar. Mas como poderiam amar de outro modo um pintor e um poeta demasiadamente preocupados com catolicismo, no inicio do século passado?

Mas como poderia mostrar o amor diferente um filme modulado para ser um gueto, uma marca?

Mas talvez o amor seja realmente uma porcaria, um produto cultural com data de validade vencida, que apenas por desespero desejamos viver...

Penso em outros filmes ruins. Filmes que não tinham galhos retorcidos, nem crânios, nem surrealismos, nem olhos de Dali e lábios de Lorca. Filmes de Bang Bang e Kung Fu. Filmes sobre puberdades sexistas na Filadélfia. Os caçadores de emoções mascarados com meu rosto já odiando a história política dos Estados Unidos. Pornochanchadas brasileiras que não descobrem as profundezas de Humberto Mauro, mas são belas quando mostra, em segundo plano, um fantasma enrubescido e gritante, chorando em silêncio, a morte da Olga Benário.

Os seriados também ensinam e me ensinaram o cérebro humano pelo avesso: a mente espacial e orelhuda de doutor Spock e as espaçonaves que ornamentavam minha vida enquanto menino meu corpo dormia desejando a nave espacial

Filmes de lobisomens que morriam com uma bala de prata ou uma espada forjada por alquimistas de séculos passados, mas que mordendo abandonavam um filho ruim no corpo gozoso da donzela.

Como se fosse um blues, o filme barato mostra visões que me possuíram. Dores quase biográficas arrancadas de algumas miniaturas dos quadros de Miró conseguidas com bastante dificuldade

Os dias com Allen Ginsberg.

Os amigos magos que se perderam nos braços morenos da província chorando  suas dores nos telhados da minha alma como se fossem o Buda e o meu poema carne.

Ao galho digo que gosto da sua energia se afastando das qualidades do meu corpo, que admiro sua falsidade plástica e seus suspiros com Augusto dos Anjos humilhando a paisagem; ao crânio digo seu sentido calvo, sua existência humana, mesmo quando aos pés de um manequim.

Oh crânio Lazarento, minhas noites cinematográficas contam desejos de literatura: os olhos dentro do meu roteiro que nunca será filmado se parece um pouco com Lorca morrendo na guerra Civil Espanhola alguns anos depois.

Oh crânio Lazarento, estou na casa de meu pai enquanto escrevo.Vejo os barracos ensolarados da miséria e os garotos que agora não poderão ser os coribantes de Roberto Piva, pois a vida experimental ficou extremamente defasada e as drogas só fazem  insônia e ordem na minha bonequinha de vestido verde.     

Vejo também a escola em que cursei o primário e um senhor do meu tempo de escola ainda remenda a horta escolar e conta piadas.

Meu corpo não abandonou essa escola como não se separou desses morros. Estranhos de comover mais que todas as galerias de arte em que meus quase colegas de profissão estudam o tempo e a maldade do tempo.

Vejo

e vendo acordo a esperança claudicante das recordações

A morte rápida de certos acontecimentos e pessoas e a morte demorada da memória nas lembranças,
mas a morte é realmente a única diferença, mesmo quando os cavalos do poema conseguem ver a gênese continuada dos sentidos. 
A menina do morro imita Brigett Bardot nas pupilas do meu sexo e como não sou embaixador não verei Sevilha

E como Mallarmé meu corpo continuará procurando o buquê todos os buquês até gastar a ultima moeda gasta da minha vida... 

Oh crânio Lazarento, escrevo para não ver seu filme morrendo no meu corpo, pois meu corpo sente simpatias por você, gosta muito da sua pintura cariada de Monalisa; gosta mais ainda quando no seu corpo de crânio o  tempo me pede um trocado como se fosse Garcia Lorca. 



Abiatar Machado
Caratinga, Bairro Santa Cruz, Abril de 2012

Abiatar, poeta de Caratinga, fazendo poesia

quarta-feira, 2 de maio de 2012

Me disse que as coisas que não existem são mais bonitas.

Poema da Lesma

se no tranco do vento a lesma treme
o que sou de parede a mesma prega
se no fundo da concha a lesma freme
aos refolhos da carne ela se agrega
se nas abas da noite a lesma treva
no que em mim jaz de escuro ela se trava
se no meio da náusea a lesma gosma
no que sofro de musgo a cuja lasma
se no vinco da folha a lesma escuma
nas calçadas do poema a vaca empluma!

(Poema de Manoel de Barros musicado por Tetê Espíndola)




VII
Toda vez que encontro uma parede
ela me entrega às suas lesmas.
Não sei se isso é uma repetição de mim ou das
lesmas.
Não sei se isso é uma repetição das paredes ou
de mim.
Estarei incluído nas lesmas ou nas paredes?
Parece que lesma só é uma divulgação de mim.
Penso que dentro de minha casca
não tem um bicho:
Tem um silêncio feroz.
Estico a timidez da minha lesma até gozar na pedra.


Em homenagem aos nossos companheiros de Conselheiro Lafayete que carregam a poesia nas costas como a Lesma o seu casulo. 

Evoé!
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