Sentem-se à mesa farta.
Estamos fartos da vida.
Submetemos tudo.
Nós, os outros, as coisas, os deuses.
Mas nessa época, a essa hora do dia
os homens e as máquinas ou a máquina homem
tramam uma nova invenção para facilitar nossa vida
um novo sabor para enfeitar nossa mesa.
Ouçam!
São as engrenagens, elas vão ranger.
As engrenagens dentro de você.
Uns perecem pela miséria, outros pelo excesso.
Mas todos somos filhos da máquina.
Que a máquina seja louvada, o progresso, amém.
Entre as engrenagens
vai pela noite elétrica o poeta
na sua velha manufatura interior
tecendo amores e ódios, a espreita do colapso.
Sonhando com empresários suicidas
qua saltam da janela dos altos edifícios
sobre o formigueiro convulsionado
da massa de cidadãos raivosos e famintos.
Saúda a fome esbelta e insolene
que sai dos guetos e desfila pelas ruas dos grandes centros
A bela musa de seus versos aguarda
na fila da sopa gratuita.
À sua frente um burguês falido.
À frente do burguês,
um alcóolatra esfarrapado e apodrecido.
A humanidade toda é uma grande família.
Uma família desunida e degenerada.
Mas ainda assim uma família.
Vai cismando o poeta.
*pic. Weather: Continued Rain
**Retirado do zine homônimo.
São João del-Rei 2013
Amei o poema! Parabéns!
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