terça-feira, 4 de abril de 2017

Isso que é amor?

Aqui estamos! Abaixo o que se encontra é a reprodução do primeiro livro de Lucas Teixeira o Isso que é amor?.
 Esse livro, já esgotado, se encontra na sua continuidade mas também é o responsável pelo inicio de uma disposição poética e de uma atividade de publicação.
Foi o primeiro livreto autopublicado que muita gente viu circular por aí, e em sua performance a refletir a irreverência do conteúdo  ao vender os livretos de mãos em mãos foi inspiradora e catártica em muitos sentidos.
Agora, quando Lucas Teixeira vai para seu segundo livro, o A Letra X da Palavra Amor é mais que necessário que disponhamos o conteúdo desse antológico e episódico livro.
Evoé!
Saravá!

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Prefácio


Entre o reflexivo e irreverente, Lucas Teixeira reverencia a figura feminina em seus poemas reunidos neste trabalho. Mesmo quando o poema não trata da mulher, a figura feminina está presente no jogo de palavras que ele habilmente usa.

Em alguns poemas encontramos o inesperado no desfecho, como em "Olhares", "Uma dor profunda assola meu peito", "A santinha foi à festa". A chuva é feminina a pátria, a dor, a família, a celebridade, a primeira vez. Coincidência ou não, o gênero feminino domina a palavra escrita deste poeta.

No poema "Acerca de um amor In", faz um jogo de palavras que aponta para a metalinguagem, que vai nos lembrar Camões e Fernando Pessoa, ao refletir sobre a invenção do amor através desta palavra, num joguete de verbetes.

Poeta promissor, Lucas aponta uma visão da vida entre a divertida e séria, sempre se pautando pelo uso da ironia em seus escritos.

Magda Velloso Fernandes de Tolentino


***

 Critério / mote para seleção: "O amor romântico é uma farsa, pois toda rosa subentende um 'caule' duro e vários espinhos"


***

...

Só minhas segundas intenções

Sustentam esse texto        



***

Olhares
A conversa era com ele
Mas lá no fundo
Ela estava olhando pra mim
Com o cantinho do olho
Veja bem
O canto de um olho só
Tudo para ele não perceber
Tudo para me desacreditar que era comigo
Ah! Tres vivas à mulher dissimulada!
Ele se foi
E eu cheguei.
Papo vai, papo vem,
E pro paredão logo a levei
Fui feliz naquele dia
Mas no dia seguinte
Um ditado me arrebatou
Quando o a esmola é demais
O santo desconfia.
Ficou a paranóia 
De que dos meus braços
Era outro que ela via.
Desde então
Abri mão das vesgas.


***

Inconformismo


 Oh meu Brasil feminil,
Indo, vindo, e de perfil.
Pra que ter tantas belezas
Se sou apenas um?
Oh cruel Pátria curvilínea,
Por que tem todas as cores
Silhuetas e temperos
Se sou apenas um?
E por que destinastes a mim
Só o bagaço da laranja?
É por ser devoto de São Jorge
Ou por muito tocar-me 
A miséria humana?
Meus olhos despem
O que as mãos não veem.
O violão que toco é desafinado 
E está prestes arrebentar as cordas


***

Pentento à infidelidade


Não esperes de mim, oh meu amor,
Um pacto de fidelidade
Em um mundo desigual no qual
Sobra mulher
E falta homem de verdade.


***


Previsões de Abril
(Ao ler, tenha em vista os feriados deste mês)


A princípio 
Um dia de mentiras
Conduzirar-te a uma feira de paixão
Porém, cuidado,
Logo O Traído
Far-se-á vivo
E quando menos esperar
Tiram-lhe os dentes 
2 por 1


***


Um amor


Um amor
Não tem preço,
Só custos.


***


Algo me diz...



Algo me diz que ela emagreceu
Sentou-se, curvou-se
E o cofrinho apareceu.


***


Uma dor profunda assola o meu peito



Uma dor profunda Assola o meu peito.
A face agoniada,
Um frio na barriga;
Falta-me ar
E sobra-me um grito
Entalado na garganta.
Algo que é maior que eu,
Algo que não posso controlar...


Meus arrotos guturais.




***


Sobre sapos 


O sapo casamenteiro
Garante pra si outra genitália
Ainda girina.
Logo leva
Sua pererequinha para a cama,
E anos mais tarde,
Acorda com uma sapa gorda
Gritando em sua ressaca.


***

A santinha foi à festa


A santinha foi à festa
E pensou achar 
Seu príncipe encantado.
Hoje, amargamente
Ainda chora
E se deixa levar
Pelo seu notívago amante;
Da cerveja
Orgia 
E preguiça. 


***


Viúva suspeita


Foi um bom marido??




Graças a Deus

Ele foi... 



***


...
Belas invenções 
Distorcidas para o mal:
Com a criação da família nuclear
Logo veio o divórcio


***


Celebridade


Deve ser interessante
Ser celebridade.
Não ser esnobado
Pelas festas pobres,
Ter filas de gente
Pra me conhecer.
Ter duas gostosas
Sentadas no meu colo,
E pelo celular
Rejeitar serviço ruim.
Ser idolatrado,
Ser premiado,
Ser copiado.
E aos trinta anos dar na garganta
Um tiro bem dado,
Pela vida vazia
E a queda inevitável. 



***

Chuva



Vencer na chuva
Indica determinação.
Rir e dançar na chuva é um sinal da paixão
Porém, a única certeza,
É que peito molhado dá constipação 


***


The dog


Dia de sol.
O asfalto brilha,
Daria pra fritar um ovo.
Concreto por todo lado
Pessoas agitadas
E um cão dormindo.
Chutam-lhe as patas,
Pisam-lhe o rabo;
E o cão fica inerte
Com seus olhos e boca
Pela pose deformados.
Será doença?
Será desilusão?
Será que nosso cão medita
Transcendendo esta dimensão?
Nada mais importa.
Passa uma cadela no cio
E o cão volta a ser cão. 



***


Acerca de um amor In


 Decepcionarte-ei-te ao não dizer-lhe
Que na primeira vez que vislumbrei-te
Meu ser se iluminou com o brilho de teu sorriso,
Ou que hipnotizaram-me teus negros olhos,
ou ainda, de modo galante o bastante,
Que tua pele me lembra chocolate,
E que, portanto, fiquei louco pra te comer.

Nem às paredes confesso
Que quando toquei tuas delicadas e gélidas mãos ,
Senti-me como Romeu, forçado a me envenenar
Bebendo vinho, e um comprimidinho de Amorfil Paixonitrila.

Pois assim como grandes poderes
Trazem grandes responsabilidades,
O medo, a vergonha e o orgulho,
Estas quimeras castradoras
Estão aí de bote espiatório para
O fato de eu ser um fraco.

Amo-te,
No sentido mais falso da palavra,
Já que sois só mais um amor inventado,
Um joguete de verbetes e nada mais!
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