terça-feira, 24 de julho de 2012

Velho oeste Again - Janderson Vaz

A espera no saguão é sempre o momento mais difícil. A perna esquerda já não suporta mais o peso da direita. No momento em que descruzo as pernas percebo que agora elas balançam sem parar. Direita, esquerda, direita, esquerda, direita e esquerda.
Agora o movimento é vertical. Cruzo as pernas novamente.
Percebo que a maleta sobre o colo já começa a incomodar também.
A porta continua fechada e a secretária volta e meia é surpreendida pela velocidade supersônica dos meus olhos.
Isso! Ela nunca vai conseguir se esquivar dos meus superpoderes.
Distraio-me e sou surpreendido pela contraofensiva daqueles olhos castanhos, protegidos por escudos de vidro inquebráveis. Ela também tem superpoderes.
Mais uma pessoa chega ao saguão. Vai direto ao ponto, diz que tem um horário marcado. Ele tem um olhar sombrio, pouco cabelo, e suor na palma da mão. Terno sem gravata, colarinho straight. Na mão esquerda confere as horas no relógio, empunha na mão direita uma maleta, onde guarda às escondidas uma Luger P08.
Passa novamente a minha frente, mas assenta-se na fileira atrás.
Nesse momento é preciso muito sangue frio. Nunca olho para trás, isso faz com que o medo mude de lado. A aflição corre por todas as veias do corpo, salta com cada movimento e ruído, para nos olhos. Ai é só esperar, o silêncio será a próxima vitima e você deve estar preparado para todo tipo de pergunta.
Mais algumas pessoas rompem a entrada principal. Vêm de todas as partes do mundo, índios, japoneses, alemães, russos...
Enfim o momento derradeiro, a porta finalmente se abre. Todos os olhares voltam-se para o mesmo local. Um membro da máfia italiana acaba de sair. Ele é saudado pelo pai bondoso.
O pai tem um sorriso largo, anéis de ouro nos dedos, gel no cabelo penteado para traz, sapatos lustrados e roupa fina. Sua voz é doce e aveludada, ouvimos incrédulos sua santa benção:
__ Aguarde que entraremos em contato

Edward Hopper
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