terça-feira, 27 de maio de 2014

Cancioneiro de Ijaci - Vinicius Tobias

dá-te o destro se canhoto for
mantém a faixa dos 60
"essa estrada está mal sinalizada"
"Quer saber, respondi,
                toma meu egoísmo
                minha inveja
              doma meus monstros
vou vomitá-los todos aqui
                                   [no tapete do seu carro

Comi um belo mexido


meus pais (graciosos) foram ao teatro essa noite

depois de rir do stand-up na TV papai ficou sério e disse:

-Lembra daquela noite que quando foste dormir

acordei eu para insônia?
               Ouvi trovões a noite inteira
               mas não eram trovões
               um geólogo veio
               deu um nome
                           "A grande racha de Ijaci"

                                           talvez


Muitos trovões e arrepios.


Li uns capítulos

Totens legendários cantaram toda a Austrália  
e lhe concederam existência na época do sonho
estremeço, caminho muito nos sonhos, vou aos mesmos lugares
                                                              [e os refaço
"Será que vim pra ver todo esse falso caminho ruir?
                                                              -pra cantar isso?"

Mais trovões


"E se tudo desaparecer junto com meu corpo

                                                                          [nos destroços?'

Às 03h começou a chover.





*pic: Pintura  Aborígene
Tela "Ngalyipi Jukurrpa" de Liddy Napanangka Walker



Raio de Sol

Tem de amarrar as pernas e os braços
Suplicar aos tecidos e aos escarros
O dia mata qualquer resquício de poema
A questão de fato é, se dentro,
                                    [há problema

Disto não se distingue a diminuta
Doutrina de sempre reforçar as próprias leis
Por mais que saiba o motivo dessas eras concretas
Não quero mais o peso de conservar qualquer inimigo

Tenho de pensar melhor antes de dizer que
        não há ninguém que não tenha perdoado
Mas se não fiz isso garanto que sigo errado
Só quero me livrar do que agita o coração

Sonhos e projetos pegajosos
    -As maneiras mais distintas e necessárias ao próximo gozo
O vício de dizer convincente que quem ofende está errado

Veja qual é a situação
Num jardim, a flor
Só vejo meus fantasmas obcecados

Mas hoje não há a possibilidade do errado.
Não quero nada que não seja pré-determinado
Pego o carro, vou comprar água e vassoura piaçava

Solzinho bom nessa Ijaci em outono muito cinzento
A alegria cresce em alento
Não por estar tudo como pretendia
Mas por não me importar com isso na primeira hora do meu dia

Ijaci é bela e não é bela também
Há um ranço que dói, uma desconfiança, um rancor
                                                [expressa enquanto se pesa o Acém
Que se agarra (moída) com tentáculos na canela

No desvio do olhar que é uma oração:
 "Senhor, permite
                                 que ele não sabe
                                                               que sei
                                                                            que ele existe"

Eu lembro de minha avó sorrindo
de cima da sua sabedoria
louvando a Jesus.

Lembro do sermão reconfortador do pastor
em seu velório.
Lembro de qualquer sorriso sem contextualização
Vejo aquele rapaz, antes agressivo, agora gentil
Seu irmão, antes amargurado
Agora com amor no coração ensinado a outros
                                                                   [o caminho da salvação

Pago e esqueço de pegar o que fui pegar no super-mercado
       (fiquei um pouco melhor quando os afogados boiaram
         pude subir um pouco, para uma densidade
         que dá pra um sol bater de vez em quando)
Agradeço, digo bom dia, sorrio
forçado?
Recebo um grunhido como retribuição
Ele serve de mote para essa canção:

"Nem o mais hostil e agressivo ódio
dentro de cada ser que se debate
pode ofuscar no individuo
Aquilo que jamais se dividiu
; nem a veemência expressa neles da Verdade"

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