*pic: Oliviero Toscani, em sua publicidade engajada
em United Colors of Bennetton.
O pior é o que dizem: rezou.
Ele que sempre foi contra,
do contra, ateu,
agora que zerou, creu?
Ele que sabia que a vida é coisa
de sempre não
Sem fórmulas fáceis,
nem saídas para a dor
de cabeça
de pensar
de ser sem crer.
Ele sabia que não há aspirina
contra o bolor.
Logo dirão que se inspirou,
e compôs de improviso
um soneto vendido,
dos que sempre enfrentou.
Dirão ainda que se converteu
e defendeu a vida devota,
a pacificação bovina,
a prédica dos pastores.
(Verbo e verba:
pragas velhas.)
E que se arrependeu do pecado
de ser exato, claro e enjoado.
Vida, te escrevo merda.
Às vezes fezes, mas sempre merda.
Fingida flor, feliz cogumelo,
caga e mela.
Sempre severa e cega merda.
Triste é depender
de relatos carolas,
acadêmicos, cartolas.
Triste é depender
da leitura alheia,
facéis falácias: farsas.
Triste é depender
dos olhos dos outros,
de voz de falsas sereias.
Triste é não poder mais
se defender.
Mas
um aqui, João,
incerto, grita
e insiste em não crer
na sua crença repentina
que a morte (sua)
desminta a obra (sua) vida
Um aqui, João
o tem por certo:
é mais difícil o não
crer, não
ceder, não
descer, não
conceder: Não
Não, não orou.
*o pior é quando morto te inutilizarem a VIDA
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