*Comentário dos auto retratos: Na primeira foto o espectador adentra seu corpo. Somos objeto de seu olhar. Além disso, a madeira da cama é um objeto fálico entre suas pernas. Dando virilidade e feminilidade ao corpo como a boca e tromba de uma deusa hindu. Na segunda fotografia há quatro mulheres. Duas dentro do espelho, a narcísica e a fotógrafa. 4, a simetria do número par é muito sensual. Seu corpo é como "O Violino de Ingres", olhar de Man Ray sobre a "Banhista de Valpinçon" - claro, esta mulher atende aos padrões de beleza de nossa época, ao contrário das gordinhas do neoclassicismo, mas é tão artística quanto elas. se a arte tem a capacidade de se presentificar eternamente - ou não - confesso não saber a diferença entre a imagem de seu corpo real e seu corpo artístico. O corpo real talvez seja tão eterno quanto esta fotografia moderna neoclassicamente. O mais grandioso nesta segunda obra de arte é a quebra do lugar comum com o riso e a ampliação do ambiente pelo espelho que dialoga com a janela, perdendo assim a identidade de espelho. O cenário também diz muito. É seu quarto? Livro, nudez e janela. Três convites de entrada.
-Voyer Cego
Uma mulher espera por mim
Walt Whitman
Uma mulher espera por mim, nela tudo se contém, não falta nada,
No entanto faltaria tudo se lhe faltasse o sexo ou a umidade do
homem certo.
Tudo se contém no sexo, corpos, almas,
Significados, provas, purezas, delicadezas, proclamações, efeitos,
Ordens, canções, higidez, orgulho, o mistério materno, o leite
seminal,
As esperanças todas, bens, outorgas, todas as paixões, belezas,
amores, os deleites da terra,
Todos os governos, juízes, deuses, o cortejo das pessoas da terra,
Tudo se contém no sexo como partes de si e justificações de si.
Sem pejo o homem de quem gosto sabe e confessa as delícias do sexo,
Sem pejo a mulher de quem gosto sabe e confessa as delícias do sexo.
Pois eu me afasto das mulheres insensíveis,
Para ficar com a que espera por mim, e com as mulheres de sangue
quente que me satisfazem,
Eu vejo que elas me compreendem e não me repudiam,
Vejo que são dignas de mim e eu serei delas o marido vigoroso.
Essas mulheres não são em nada inferiores a mim,
Têm o rosto tisnado pelo brilho dos sóis e pelo sopro dos ventos,
Há na carne delas, antigas e divinas, agilidade, força,
Elas sabem nadar, remar, montar, lutar, atirar, correr, bater
recuar, avançar, resistir, defender-se sozinhas,
São supremas por direito próprio - são calmas, límpidas, donas
de si mesmas.
**Trad, José Paulo Paes
Não é ironia: o que eu mais gostei nas fotos foram as manchas no espelho envelhecendo com tons de mofo e desintegração o jovem corpo que se auto contempla.
ResponderExcluirBelos!
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