sexta-feira, 3 de janeiro de 2020

"Na solidão daquela praça de periferia"

Ela olhou pra ele
Na solidão daquela praça de periferia.
Reparou nas lentes grossas do óculos, fora de moda.
Na gola da camisa, no pomo de Adão.
Nas mãos.
Os paralelepípedos como um quebra-cabeça.
Não sabia mais das regras de concordância.
Se as palavras agora eram definidas pela falta de hífen. Ou hímem.
Palavras continuam virgens, por mais que você as penetre, as masturbe, as mastigue.
Na fluidez do momento, queria que ele contasse suas sardas, como se fosse uma história, de ontem.
Mas, continuava quieta.
Faltava um botão na camisa de cambraia.
As coisas que desviam nossa atenção.
Levantou os cabelos pro beijo do vento; um convite, um mundo de sugestões.
Palato, céu da boca, cometas.
Baixo ventre, Baixo Guandu, Baixo Leblon.
E toda Mata Atlântica.
Em sua mente, já não havia poesia.
Periférica, sua visão.
E o barulho do mar.

Barulhos de Agosto.


Valéria Duarte

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