(-) o cheiro úmido das coisas que falam em silêncio
o orvalho sorve o concreto das paredes &
mais de quarenta anos
& os sonhos seguem inalcançáveis
a casa não deu,
namorado, emprego, beleza se vai,
as dúvidas sem boca
o gosto agridoce do sexo
as soluções sem conteúdo (das informações reproduzidas)
a cartilagem débil de sentir
& a luta entre ter ou ser dos moluscos no óleo
& o orvalho
sorvendo o concreto das paredes
(-) reencontro
antigamente era simples
todo mundo se comia depois ia embora
hoje
você aqui na minha cara (neste apartamento)
eu viro mosca
& procuro uma fruta podre onde me esconder
(-) reencontro II
a nossa poesia sucumbiu
ficou
miúda de tesão
(-) os revolucionários também sabem ser caretas
esfaqueamos o rei & nas mãos ficou sangue
traímos
tudo o que podíamos
até que o mofo cresceu nas cicatrizes
& a vida virou a bunda murcha no cabaret da travesti cansada
(-) memórias do nosso apartamento que resolvi esquecer debaixo da cama porque o banal do cotidiano é o maior continente da alma &depois da casca das feridas há névoa
o gato roçando a geladeira
(& você lavando louça)
(-) a beleza inaudível das coisas é arte
parece uma égua
abaixando-se para a água no bebedouro público
roupas coladas de suor
& os cabelos azucrinados do sol em seus olhos
Guilherme Paiffer Pelodan
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