segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

O mundo que te ofereço, amiga - Jorge Rebelo

O mundo que te ofereço, amiga 
tem a beleza de um sonho construído.

Aqui os homens são crentes 
Não em Deus e outras coisas sem sentido
mas em verdades puras e belas
tão belas e tão universais 
que eles aceitam morrer para que elas vivam.

É esta crença, são estas verdades,
 que tenho 
para te ofertar.

Aqui a ternura não nasce 

nas alcovas.
É uma ternura rude, violenta, amarga 
nascida na dureza áspera da luta
 em caminhadas longas 
em dias de espera. 

É esta ternura, rude e amarga,
 que tenho 
para ofertar. 

Aqui não crescem rosas coloridas.
O peso das botas apagou as flores pelos caminhos.
Aqui cresce milho, mandioca 
que o esforço dos homens fez nascer 
na previsão da fome. 

É esta ausência de rosas,
este esforço, esta fome
que tenho
para te ofertar.

Aqui as crianças não envelhecem, 
o seu riso é eterno,
 brincam com o sol, com o vento
com a chuva e os gafanhotos, 
com espingardas verdadeiras,
com pedaços de granadas.

É este riso eterno de criança, este sol, 
estas espingardas verdadeiras 
(com as quais também brinquei), 
que eu tenho 
para te ofertar.

O mundo em que combato 

tem a beleza de um sonho construído.

É este combate, amiga, este sonho, 

que tenho para te ofertar. 



Sugerido por Maria Cristiana Casimiro, de Macau

2 comentários:

  1. Obrigada, Vinicius! Poema lindo, da década de 60 e que se provou universal e intemporal (tive provas disso, nas minhas aulas de Português por esse mundo fora....).

    Espero que os teus leitores gostem! Este foi um poema que Jorge Rebelo dedico à futura mulher, vinda do norte da Europa, quando ele estava na guerrilha de libertação, nas áreas já libertadas do norte de Moçambique, na guerra colonial. Como te contei, mostrei este poema em 2001, aos meus formandos, em Timor, e eles acharam que os mesmo versos teriam sido escritos por um timorense, referindo-se ao estado de destruição em que o país se encontrava. Lindo, não é? Universal e intemporal!.....

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  2. Sou da praxis de que a leitura de bons poemas geram releituras espontaneamente. Assim sendo, "convido-lhes a um mundo viril e fálico como só a guerra pode ser! Deixe as rosas aos que no fundo preferem escapar fedendo a morrer cheirosos. Pois se não há garantias de um amanhã baby, lhe ofereço apenas a fome e ânsia de que abocanhe a espiga, pegue firme na espingarda e (des)enterre a mandioca comigo sob o sol do meio dia."

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