quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Poesia Poligrota - Autor Desconhecido

É verdade matemática
que ninguém pódi negá,
que essa história de gramática
só serve pra atrapaiá.
Inda vem língua estrangêra
ajudá a cumpricá
Mió falá o brasileiro
que todos sabe falá.

     Na Ingraterra ouví dizê
     que um pé de sapato é xu.
     Desde logo já se vê,
     dois pé deve sê xuxu.
     Xuxu pra nóis é um ligume
     que cresce sorto no mato.
     Os ingrêis lá que se arrume,
     mas nóis num come sapato.

Na Argentina, veja ocêis,
um saco é um paletó.
Se o gringo toma chuva
tem que pô saco no sór.
E se acaso ele encóie,
a muié diz o pió:
"Teu saco ficô piqueno
vê se arranja ôtro maió"...

    Na América corpo é bódi
    Veja que bódi foi dá.
    Conheci uma americana
    doida pro bódi emprestá.
    Fiquei meio atrapaiado
    e disse pra me escapá:
    Ói, moça, eu não sou cabra,
    chega seu bódi pra lá!

Na Alemanha tudo é bundes.
Bundesliga, bundesbão.
Muita bundes só confundi
disnorteia o coração.
Alemão ó, menos bundes
que só nos trais confusão.
pro que di trais desses bundes
sempre vem um salsichão.

    No chile cueca é dança
    de balançá e rodá.
    Lá se dança e baila cueca
    inté a noite acabá.
    Mas se um dia um chileno
    vié pro Brasi dançá,
    que tente mostrá a cueca
    pra vê onde vai pará.

Eu conheci um francêis 
que me deu uma gravata azu.
Preguntei, onde se bota?
E ele me disse no cu.
Eu sou óme confirmado
mais respeito entendeu?
Seu franceis mar educado
bota a gravata no seu!

    E vindo de Portugá
    tem um dizê que num cola
    lá os putos são as crianças
    imagine isso na escola
    a fessora vim dize:
    vou da aula pra esses putos
    oh! tiro meus fio na hora,
    num dimito esses insurtos

E o Japão que aqui chegô
Sim sinhoro arigatô
com o kimono e o co shoyo
vapt a nossa lingua robo
nois fazia era serenata
hoje é karaokê
aquelas briga de tapa
Elis diz que é Karatê

    E pra vosmiceis eu afirmo,
    tem que se tê pusição.
    Ô nóis fala a nossa língua,
    ô num fala nada não.
    Pois num pode um povo
    fazê papér de idiota,
    dizendo tudo que é novo
    só pra falá poligrota

Na Itália els diz até,
eu não sei pro que razão,
que como mantêga é burro,
se passa burro no pão.
Ara agora chega,
certo é a vida no sertão,
onde mantêga é mantêga,
burro é burro e pão é pão (e tenho dito)




*Extraído do cordel "Cordéis do Canfundó" de Cascão.
** Parece que vender poesias na rua não é novidade não né...

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