segunda-feira, 17 de agosto de 2020

Dois poemas de Tassio Ribeiro

 


Raro, seu olhar castanho escuro

Sobre o muro que corta a cidade.

Cinza, cor do tempo, neste lugar

vazio de poesia, flores, árvores.

Tudo mudo, e você aqui observando

O silêncio contínuo

Que insiste em mostrar 

Nada além do tempo

Que passa sem nada

No seu devido lugar


* * * 


Meu pai engraxou os sapatos.

Um hábito antigo que aprendeu

No passado. Pegou seu casaco

E foi para o trabalho, onde era

Um operário. Trabalhava

O dia todo; levava a marmita,

E o café. Minha mãe cuidava

Da casa, e dos meus irmãos.

O seu salário quase não supria

As necessidades da casa.

Mas fazia o que podia, para

Garantir o sustento. E a sua maior

Virtude era a poesia, que fazia

Nas raras horas vagas. Dizia que

Tudo é uma questão de tempo e 

Paciência. E o sorriso já amarelo,

Acalentava a todos, que via sua

Fibra, no corpo franzino, boca de menino, e a coragem de um leão.




Tassio Ribeiro





2 comentários:

  1. Parabéns ao poeta Tassio Ribeiro que
    Sabe usar as palavras com sabedoria

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  2. eita que beleza! Ajuda muito a gente a suportar o insuportável ! Obrigada !

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