NADA COMO O TEMPO
para matar
como o tempo
( e não há nada
para saciar )
de cá a rotina
o dia a dia
para passar
Prezado prazo,
venho através deste
comunicar:
ESTOU PRESO!
em cada medo
em cada dado
em cada dedo
Desatenciosamente,
_________
Igor
(sigo como cínico ouvinte
o ritmo algorítmico
dos anos 2020)
Caro contrato,
estou inconsciente
mas quero continuar
exposto como uma fratura
:
"É NECESSÁRIO
ASSASSINAR AS
ASSINATURAS ! ! !"
matar o tempo, sim
sem deixar impressões
digitais
manuais
editoriais
Quedar a vida inteira
caído como cachoeira
imitar o mito do vento
trespassar transparente
COMO O TEMPO
nada para passar
sigo o silêncio com o olhar:
uma bactéria florida
o sol e sua solidão espacial
sua melancolia de nunca ver o dia
entediado em sua escravidão
gravitacional
rotações translações como
prótons nêutrons
sonhando fugir de seu giro
N U C L E A R
como eu . . . nesse tédio trágico
t e m p o f á g i c o
encaro o cotidiano
pleno de planos
de explodir o mundo
de construir o futuro
de tornar toda folha vazia
um lugar seguro
Mas isso tudo pode esperar . . .
por ora:
preparar
apontar
e atirar
Afinal, nada como o tempo para
(se) matar.
( ir go - Igor Alves)
sexta-feira, 27 de março de 2020
domingo, 1 de março de 2020
Ijaci Alagada
Ijaci é muito pequena
E tem muitos poucos símbolos cívicos
Numerá-los? Pra que?
Precisaria de apenas três versos
Talvez menos
Mas tem muitos pontos cardeais
Nos quais os corações - dos religiosos e dos maconheiros
Podem se ancorar, e alçar vôos de sonhos
É notável sua potência mineral
E apesar da represa afogando
o rio sobre o qual repousava a lua
Pedras grandiosas guardam sua soberania
A pedra do bugio
Que privilegiadamente vejo pela janela
E a gruta de Santo Antônio
Alagada até a metade
Na qual a permanência do santo fujão
Garantiu a exigência de uma passarela
Essas pedras, uma por seu formato de obelismo
E outra por guardar a sagrada imagem
Mantém seu corpo mineral, embora esquartejado
A erguer-se em direção ao céu noturno
À lua cheia
Através da água agora má, agora parada
Um dia choverá o bastante, e Jaci
Recuperará seu rio da hidra-elétrica
Disso eu tenho a certeza
-nesse dia todos estarão casados
E tem muitos poucos símbolos cívicos
Numerá-los? Pra que?
Precisaria de apenas três versos
Talvez menos
Mas tem muitos pontos cardeais
Nos quais os corações - dos religiosos e dos maconheiros
Podem se ancorar, e alçar vôos de sonhos
É notável sua potência mineral
E apesar da represa afogando
o rio sobre o qual repousava a lua
Pedras grandiosas guardam sua soberania
A pedra do bugio
Que privilegiadamente vejo pela janela
E a gruta de Santo Antônio
Alagada até a metade
Na qual a permanência do santo fujão
Garantiu a exigência de uma passarela
Essas pedras, uma por seu formato de obelismo
E outra por guardar a sagrada imagem
Mantém seu corpo mineral, embora esquartejado
A erguer-se em direção ao céu noturno
À lua cheia
Através da água agora má, agora parada
Um dia choverá o bastante, e Jaci
Recuperará seu rio da hidra-elétrica
Disso eu tenho a certeza
-nesse dia todos estarão casados
Vinicius Tobias
1/03/2020 - aniversário de Ijaci
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