sexta-feira, 27 de março de 2020

Nada como o tempo - para matar

NADA COMO O TEMPO
para matar

como o tempo

( e não há nada
                   para saciar )

de cá a rotina
      o dia a dia
      para passar

Prezado prazo,
venho através deste
                                   comunicar:

ESTOU PRESO!
                            em cada medo
                            em cada dado
                            em cada dedo

Desatenciosamente,

_________
               Igor

(sigo como cínico ouvinte
o ritmo algorítmico
dos anos 2020)

Caro contrato,
estou inconsciente
mas quero continuar

exposto como uma fratura
 :

"É NECESSÁRIO
ASSASSINAR AS
ASSINATURAS ! ! !"

matar o tempo, sim
sem deixar impressões

                     digitais
                     manuais
                     editoriais

Quedar a vida inteira
caído como cachoeira

imitar o mito do vento
trespassar transparente

COMO O TEMPO
nada para passar

sigo o silêncio com o olhar:
uma bactéria florida

o sol e sua solidão espacial
sua melancolia de nunca ver o dia

entediado em sua escravidão
               gravitacional

rotações translações como
prótons                    nêutrons

sonhando fugir de seu giro
N     U      C     L    E     A     R

como eu . . . nesse tédio trágico
t e m p o f á g i c o

encaro o cotidiano
pleno de planos

de explodir o mundo
de construir o futuro

de tornar toda folha vazia
um           lugar         seguro

Mas isso tudo pode esperar . . .
por ora:

               preparar
               apontar
               e atirar

Afinal, nada como o tempo para

(se) matar.

( ir go - Igor Alves)

domingo, 1 de março de 2020

Ijaci Alagada

Ijaci é muito pequena
E tem muitos poucos símbolos cívicos
Numerá-los? Pra que?
Precisaria de apenas três versos
Talvez menos
Mas tem muitos pontos cardeais
Nos quais os corações - dos religiosos e dos maconheiros
Podem se ancorar, e alçar vôos de sonhos
É notável sua potência mineral
E apesar da represa afogando
      o rio sobre o qual repousava a lua
Pedras grandiosas guardam sua soberania
A pedra do bugio
Que privilegiadamente vejo pela janela
E a gruta de Santo Antônio
Alagada até a metade
Na qual a permanência do santo fujão
Garantiu a exigência de uma passarela
Essas pedras, uma por seu formato de obelismo
E outra por guardar a sagrada imagem
Mantém seu corpo mineral, embora esquartejado
A erguer-se em direção ao céu noturno
À lua cheia
Através da água agora má, agora parada
Um dia choverá o bastante, e Jaci
Recuperará seu rio da hidra-elétrica
Disso eu tenho a certeza
                          -nesse dia todos estarão casados



Vinicius Tobias
1/03/2020 - aniversário de Ijaci







Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...