quarta-feira, 5 de setembro de 2012
terça-feira, 4 de setembro de 2012
Equivocos - Lucas F. L
1º Equivoco
O
tempo seco
“cuidado
qualquer
inflamação na garganta pode te levar a óbito”
Mas
fique calmo
consulte
seu plano de saúde
A
cidade
um
deserto
respiração
poeira
Quem
passa pela praça
escuta
apenas ciganas rogando pragas
“as
mãos estão todas iguais”
No
termômetro
38º
2º Equivoco
A
pipoca jogada ou acidentalmente perdida
é
disputada num lance de dados por pombos
e por seres cinzas enrolados em cobertores.
e por seres cinzas enrolados em cobertores.
Esses
por sua vez
evitam
o mínimo movimento durante as noites,
qualquer
gasto de gordura pode ser fatal
...
O
SENSACIONAL de ontem
encontra-se
nas mãos de um barbudo sensato
papel
vagabundo
traçando
o exagero
e
a extravagancia
logo
a frente
motoristas
que passam por uma moto sem a roda da frente
riem
do poste sacana
muletas
pra quem te quer!
3º Equivoco
Eu
sei...
é
mais uma impressão óbvia
mais
uma chateação escrita
mas
é
nesses pedaços providos de domingos mal dormidos
que
percebo qual é o tipo da força humana
Presumo que...
essa
força
é
a mesma do capim gordura sob o sol
praga
invasora de terrenos baldios
que
não se resolve com poda
ou
guilhotina
Você
envelhece e morre
e
a humanidade insiste no erro
sufocando
flores silvestres
e
abrigando em sua vegetação rasteira
um
mundo de carrapatos
pic's: Minotauros ilustrados por Picasso
O Cemitério dos Vivos (trechos)
Essa questão do álcool, que me atinge, pois bebi muito e,
como toda gente, tenho que atribuir as minhas crises de loucura a ele, embora
sabendo bem que ele não é o fator principal, acode-me refletir por que razão os
médicos não encontram no amor, desde o mais baixo, mais carnal, até a sua forma
mais elevada, desdobrando-se num verdadeiro misticismo, numa divinização do
objeto amado; por que – pergunto eu – não é fator de loucura também?
Por que a riqueza, base da nossa atividade, coisa que, desde
menino, nos dizem ser o objeto da vida, da nossa atividade na terra, não é
também a causa da loucura?
Por que as posições, os títulos, cousas também que o ensino
quase tem por meritório obter, não é causa de loucura?
...
Eu sou dado ao maravilhoso, ao fantástico, ao
hipersensível; nunca, por mais que quisesse, pude ter concepção mecânica,
rígida do Universo e de nós mesmos. No último, o fim do homem e do mundo, há
mistérios e eu creio neles. Todas as prosápias sabichonas, todas as sentenças
formais dos materialistas, e mesmo dos que não são, sobre as certezas da
ciência, me fazem sorrir e creio que este meu sorriso não é falso, nem
precipitado, ele me vem de longas meditações e de alanceantes dúvidas.
Cheio de mistério e cercado de mistério, talvez as
alucinações que tive as pessoas conspícuas e sem tara possam atribuí-las à
herança, ao álcool, a outra qualquer fator ao alcance da mão. Prefiro ir mais
longe...
O que há em mim, meu Deus? Loucura? Quem sabe lá?
Lima Barreto
Escreveu esse livro/relato internado no Casarão da Praia Vermelha ( Hospício Nacional ), do natal de 1919 a fevereiro de 1920, vindo a falecer dois anos depois
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